Degustação:
A
Fonte da Juventude
“Mocidade.
Mas mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir.”
João
Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas
Os
alquimistas buscavam a fonte da eterna juventude, entre outras coisinhas
básicas e simples desse tipo.
Essa é
a fonte que muita gente busca e, surpreendentemente, encontra com a maior
facilidade. Na verdade a fonte da juventude nem precisa ser procurada, ela é
dada de graça a todos. Não existe nada oculto e misterioso neste mundo e tudo
está tão revelado, tão óbvio, na nossa frente, tudo pronto para o uso. Nós é
que não conseguimos enxergar ou ler direito a vida e, às vezes, confundimos as
coisas.
É na
fonte da juventude que a maioria das pessoas mergulha, porém elas se esquecem
de que essas águas estão sempre fadadas a diminuir, ou seja, essa é a fonte que
seca a cada dia e quem permanecer nela ficará desidratado e morrerá de sede.
Talvez o melhor seja realmente descobrir e identificar essa fonte, mas para
sair dela o mais rápido possível!
Parece-me
melhor e mais garantido mergulhar o quanto antes na fonte da velhice, pois essa
é a fonte cujas águas aumentam com o passar do tempo. Nela você estará seguro.
Nunca haverá sede e sempre haverá água em abundância; seu corpo não se
ressecará e sempre será refrescado; se a fonte encher demais, você terá tempo
suficiente para aprender a nadar; se for água demais para você, compartilhe-a
com os outros; quanto mais velho você estiver, mais água brotará da sua fonte e
será bom que os jovens sedentos venham beber daquilo que você puder oferecer.
Quanto
mais cedo aceitarmos a velhice e mergulharmos na sua fonte, menos o tempo nos
ressecará.
Não brigue com o tempo e ele não brigará com você; desafie-o e você
será destruído, pois não existe rejuvenescimento; o tempo que passa não volta
exatamente igual e isso é uma das maiores sabedorias do universo.
Pense
no pior momento da sua vida, no acontecimento mais trágico e doloroso. Existem
na vida alguns minutos que nós achamos que nunca passarão ou que nós não
sobreviveremos a eles. Mas nós sobrevivemos, o tempo ameniza a dor das feridas
e voltá-lo significaria sofrer pelas mesmas coisas, exatamente da mesma
maneira. Eu não quero isso! Acho que seria um dos piores castigos que a vida
poderia nos dar. Entendo que nós, seres humanos, não aguentaríamos; não somos
tão fortes assim. Já que a vida tem dificuldades, pelo menos que não sejam
repetidas, afinal estamos no mundo para progredir.
Alguém
poderia argumentar que precisamos lembrar ou rever nosso passado para
compreender seu significado e aprender coisas para o futuro, e com isso eu
concordo totalmente, mas vejam que esse tipo de atitude é totalmente diferente
de querer voltar no tempo, seja por qual motivo for: rejuvenescer, consertar
algum erro, evitar uma tragédia e assim por diante.
Concordo
que a vida é cíclica, que tudo que vivemos e fazemos permanece em nós, e esses
atos sofrem metamorfoses ao longo da nossa vida, retornando periodicamente sob
formas variadas, mas muitas coisas boas e más se repetem, quem sabe porque
sejam nossa missão, talvez para nos ensinar algo ou para serem corrigidas. O
fato é que o passado e o futuro estão sempre em nós, ao mesmo tempo.
Vamos
aceitar o passado como uma aquisição, como o tempo que já é nosso, o tempo que
já vivemos e que ninguém nos tira mais.
Com a
memória podemos passear à vontade nesse tempo passado e mudar o significado de
várias coisas que já aconteceram, mas principalmente mudar nosso sentimento em
relação a elas. Só assim podemos mudar o passado em nós, e é isso o que
importa, é isso que pode aliviar nossas dores.
Na vida
só existem duas certezas: a morte e o tempo que passou. Essas são nossas duas
garantias, as únicas coisas que temos como certas. Por que então não as usarmos
como referências firmes para nossas vidas? Por que as pessoas evitam tocar
nesses assuntos se eles são os nossos dois maiores presentes recebidos? São as
duas referências mais válidas e sólidas, diante das quais tudo se relativiza e
que nos fazem ver com maior clareza o que é ou não essencial para nossa
existência.
Por que
considerar o tempo que passou como aquele que não temos mais, quando na verdade
esse é o único tempo que realmente temos, pois é o que já vivemos e ninguém
mais pode tirá-lo de nós? Não sabemos se teremos tempo futuro, ninguém sabe se
vai morrer amanhã, mas todo mundo que hoje está vivo sabe que estava vivo
ontem. Até o presente minuto você teve sua vida, mas o futuro não nos pertence.
O
Mergulho na Fonte da Velhice
O
filósofo Cícero (103 – 43 a.C.) escreveu um maravilhoso texto sobre a velhice (Saber
Envelhecer), no qual relata um ditado que já era antigo naquela época e que
recomendava ser velho cedo se quiséssemos sê-lo por muito tempo. Cícero
discordou desse ditado, alegando que preferia “ser velho por menos tempo do que
sê-lo prematuramente”.
Sou
mais propensa a concordar com o antigo ditado, pois entendo que ele sugere a
precoce aceitação do destino de envelhecimento do ser humano e não uma
incitação ao abandono da juventude. Acho que o “ser velho cedo” sugerido pelo
ditado é no sentido metafórico; eu diria que é o mergulho na fonte da velhice o
quanto antes, para sermos nutridos por ela por mais tempo, para adquirirmos
sabedoria e, quem sabe, uma longevidade saudável e de acordo com as leis
naturais.
Quem
recusar espiritualmente a velhice e retardar a reflexão sobre esse assunto, por
medo de confrontá-la, estará fadado ao sofrimento e a um envelhecer amargurado
cuja percepção postergada será abrupta e dolorosa, pela falta de preparo
psicológico e físico.
Nosso
preparo para a velhice tem que começar antes que ela chegue. Quanto mais cedo
melhor, pois menos desprevenidos ela nos encontrará.
O tempo
não aceita diálogos e a única opção razoável é concordar com ele.
Lembro-me
que fiz esse pacto de aceitação aos quatro anos de idade, quando ouvi uma
conversa entre minha mãe e uma empregada que dizia com tom de crítica que uma
determinada mulher estava velha. O comentário causou-me muita estranheza, pois
eu não via qualquer problema no fato de alguém ser velho, uma vez que já sabia
que todos crescem, ficam adultos, envelhecem e morrem, exceto os que morrem
jovens. Naquele momento eu cheguei à conclusão, com muita convicção, de que não
havia problema em ser velha, desde que eu ficasse bonita. Para mim, beleza não
significa parecer jovem, mas ter a beleza própria do velho. Eu achava muitas
velhas bonitas, adorava ver cabeleiras brancas, porém o máximo eram aquelas com
rinsagem azul ou lilás, coisa bastante usual na época (década de 60).
Muito depois, os punks começaram a usar cabelos coloridos e acreditou-se
que fosse por rebeldia, entretanto eles nem mesmo foram originais. As lindas
senhorinhas de cabelos azuis já estavam bem à frente do seu tempo e essa bela
visão me fez mergulhar precocemente na fonte da velhice e aceitá-la como um
presente do tempo.
Bem
mais tarde, quase aos trinta anos, minha mãe perguntou se eu tinha feito alguma
coisa para o tempo não me castigar, ao que respondi:
— Eu
não brigo com ele para ele não brigar comigo.
Ela
sorriu.
É
assim. Sou velha desde criança e espero ser velha por mais longos e longos
anos.
Confesso,
entretanto, que há uma particularidade que me torna menos intolerante à
velhice: nunca gostei de ser criança ou muito jovem. Não que isso dependesse de
algum acontecimento externo, pois nada me faltou no sentido material ou
psicológico. Meus pais eram inteligentes e
esclarecidos, amorosos e dedicados à família. Pude estudar o que quis,
sair e namorar. Também íamos à praia com frequência, fato da maior importância
para quem ama o mar.
Creio
que o fato de eu não ter gostado da infância seja devido às minhas questões
internas, à minha personalidade, ao meu caráter e ao tipo de observação e
sentido que eu tinha em relação à vida e ao mundo. Acho espantoso como a
maioria das pessoas se refere à infância como a época mais feliz de suas vidas,
quando tudo era mágico, fantástico, não havia responsabilidades nem
preocupações.
Quanto
a mim, sinto que a infância é uma época de muito medo, de muitas incertezas em
relação ao futuro, de muitas limitações por causa da dependência dos adultos,
do menosprezo que nossos problemas existenciais recebem, como se criança não
tivesse nenhum problema. O pior de tudo são os inúmeros desejos frustrados, as
frequentes incompreensões do nosso ponto de vista e a incomunicabilidade de
alguns sentimentos e questões muito importantes para quem tem três anos, mas
que são considerados bobagens de criança por quem tem trinta.
Quando
ficamos mais maduros, continuamos tendo medos, incertezas e desejos frustrados,
mas pelo menos temos mais recursos psicológicos para lidar com eles e mais
autonomia para escolher soluções.
Pelo
prisma da criança, o mundo adulto pode ser incoerente, perigoso,
incompreensível. Imagine a ansiedade de um ser que se sente condenado a entrar
para um mundo não razoável, cruel, ilógico e imprevisível? As crianças têm
preocupações, sim, e elas sabem que assumirão responsabilidades que lhes
parecem monstruosas e desumanas!
Por
esses motivos é que não tenho um pingo de saudade da infância, pois eu já via
tudo de um modo muito duro e a incerteza do futuro apavorava-me. Tinha medo de
não ser capaz de me resolver neste mundo, era muito racional e não conseguia
acreditar em fadas e Papai Noel, o que me deixava muito triste, pois devia ser
um alento viver no mundo da fantasia, mas eu, por algum motivo, nunca fui jovem
de espírito.
Ao
longo da vida, várias pessoas, inclusive minha mãe, disseram-me que eu já nasci
velha, o que nunca me ofendeu, pois é absolutamente verdadeiro. Lembro-me de
outra pergunta feita por ela, pedindo-me para citar o melhor acontecimento de
toda a minha adolescência, ao que respondi sem hesitar: “Foi o término!”. Mais
uma vez ela riu muito.
Às
vezes, a vida nos parece tão misteriosa, tão cheia de surpresas, passamos anos
sem saber ao certo quem somos, a desconhecer nosso próprio corpo e caráter, que
estão constantemente mudando, mesmo que nossa compreensão e nossas emoções nem
sempre consigam acompanhar essas mudanças. Muitas vezes, quando chegamos a
compreender as emoções da nossa adolescência, já chegamos ao portal da velhice
e uma nova etapa totalmente diferente e assustadora nos espera!
A vida
não nos dá muito tempo para festejar uma conquista: mal resolvemos uma etapa e
a próxima já se apresenta urgente.
Nunca
me adaptei à juventude e comecei a me sentir melhor no meu próprio corpo
somente aos vinte e cinco anos, quando percebi que já tinha algumas histórias
de vida para contar e já não precisava apenas ouvir as dos mais velhos.
Certo
dia, assisti na TV a uma entrevista com Umberto Eco, na qual ele confessou que
não se sentia feliz na infância e seus motivos eram muito semelhantes aos meus.
Fiquei muito feliz ao saber que alguém de grande envergadura moral e
intelectual teve a coragem de declarar em público que a infância não é nada
parecida com um paraíso. Senti-me vingada! É por isso que ele é “o” Umberto
Eco.
Pois
bem, talvez o fato de me sentir tão inadequada na juventude tenha feito com que
não sinta saudade dela e isso, sem dúvida, cria condições especiais para
aceitar melhor o tempo vindouro, criando uma expectativa de melhora, de que a
melhor época da vida será sempre a próxima.
Ter
saudade da infância é ter saudade de si mesmo, como se já não existíssemos mais
e tivéssemos ficado para trás, naquela época. Acho que muita gente nem tem
saudade daquele tempo, mas daquela pessoa que era e ficou lá, que não veio
junto com o corpo. É a sensação melancólica e saudosa de estar longe de si
mesmo. Eu tenho saudade de algumas pessoas que eu amava, mas não tenho saudade
do tempo passado e, sobretudo, não tenho saudade de mim, porque eu tenho
certeza de que estou aqui e agora.
Nisso os quarenta
anos são uma idade decisiva. Ela lhe mostra se você está aqui ou se ficou lá
atrás.
Amei! ^_0
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